terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Medea-Mãe; Chocando os ovos da Morte


Deveríamos ser seres que colocam ovos, seres que comem seus ovos na hora das maiores certezas de dores que fazem suar e alimenta a última gota de dias melhores, mesmo sabendo que não existem dias melhores, seres que chocam para a guerra, para o horror. Uma guerra travada por um simples motivo: sobreviver; a um mundo irreal dentro do universo real do imaginário cotidiano irregular, travado por terrenos hibrides encharcados por ódio, morte, sangue, intermináveis sensações de crueldade que se tornam normais perante o passar das horas, como num embalo de uma rede, sentindo o vento ou a brisa após uma deliciosa refeição, após um delicioso ovo que outrora quase foi chocado se não fosse a ganância do homem em querer sempre aquilo que seu umbigo pede.
Hoje, o normal é sempre a ação do cotidiano, independente da crueldade que essa ação cause no convívio das pessoas. Por instantes talvez, o estranhamento, apenas por instantes, depois a normalidade. Sendo assim é normal prostitutas sendo espancadas por jovens de classe alta, é normal ver um avião em alguns segundos se tornar um grande amontoado de ferros que choram ao calor do fogo, é normal políticos que matam políticos e políticos que lavam suas roupas com a sujeira pública, é normal ver filhos drogados por remédios que não passam a febre, matando mães inocentes, que passam a vida criando filhos para tornarem uma esfinge devoradora de seios maternos, é normal ver paises na miséria enquanto outros desfrutam incessantemente de uma das sete maravilhas do mundo. Então, não posso deixar de me perguntar, o que não é normal? Quem poderia responder então este questionamento?
Ninguém melhor pra responder que as nossas Medeas, desprezadas pelo patriotismo exacerbado que coloca o homem como o maior símbolo familiar, o mesmo que toma coca-cola e arrota hambúrguer, o mesmo que sai todos os dias paro o serviço pela manhã e volta ás 11h da noite com a fuça cheia de cachaça com cheiro de cabaré e de rapariga, o mesmo que assiste ao futebol e diz que fazer as unhas não serve pra nada, o mesmo que acredita ser normal ter sua Medéia em casa cuidando dos seus filhos enquanto ele se diverte com putas vadias nas ruas, fazendo sexo oral e gastando o dinheiro do material didático das crianças. Ele se chama Jasão.
Iludido Jasão que outrora pensava que sua esposa fosse louca, iludido Jasão que teimava acreditar que sua Medéia precisava de auxilio. Medéias não precisam de auxilio. Jasão, para este sim, todo auxilio do mundo ainda será pouco para que entenda que seus ovos já não são mais seus, que seus ovos nunca foram seus, e que seus ovos não são mais ovos. Nobre é Medéia a mais forte entre as mulheres. A linda Julieta devia ter aprendido que beijos matam.
Considerada por muito como “a louca” por ter matado seus dois lindos filhos, crianças apenas, de olhos bem escuros, pele negra suave como o vento e macia como um veludo, acabados de sair dos ovos da fertilidade. Para muitos o fato de ter matado os filhos por vingança não quer dizer que seja normal. Mas o que não é normal hoje? Só porque mães não andam pelas ruas matando seus rebentos, só porque mães amam seus filhos incondicionalmente e jamais desejam a morte de suas crias, mas é neste ponto que aparece a linda figura de Medéia, aquele que choca os ovos da morte.
Medéia não mata seus filhos, pois já estão mortos, e quem fez tamanha atrocidade foi o próprio pai, fugindo de seu lar, abandonando aquela que enfrentou a sangue o infeliz destino. Ela apenas consolida o que já aconteceu, enterra seus filhos para que Jasão nunca mais possa vê-los e desfrute daquilo que ele nunca chocou. São os ovos da morte, dois, três, quatro e vários.
É certo que neste intrigante acontecimento nada é emocional, é a razão imperando sobre os aspectos emocionais, a razão mostrando seu poder perante a frágil emoção que Jasão oferece a sua “puta de cristal”. Medéia é o símbolo da inteligência feminina, é o símbolo da racionalidade feminina, enterrou seus filhos para se vingar daquele que lhe prometeu amor eterno e a enganou por muito tempo. Então Medéias não precisam de ajuda, precisam apenas de ser entendidas, por aqueles que conseguem entender que laços sanguíneos são emocionais, e laços afetivos são, sobretudo, racionais.

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