sexta-feira, 6 de março de 2009

Quem é a Cia Nós 5 de Teatro

Elenco:
Abimaelson Santos
Dyl Pires
Marinildes de Brito
Thatielle Abreu

Produção:
Alana Araújo
Darciléia Sousa
Fernanda Costa
Gisele Nunes
Ivanna Ramos
Marildes de Brito
Nárdylla Ribeiro
Raphael Brito
Roberta Soraya
Thyago Cordeiro
Ilanna Ramos
Sandra Nunes

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Trabalho Aprovado na SBPC 2008

Work in Process: O mito de Medeia e o Processo da “Cia Nós 5 de Teatro”

Marinildes de Brito Souza – UFMA
Abimaelson Santos Pereira – UFMA
Eldimir Faustino da Silva Júnior – UFMA
Ivaldo Cantanhede Junior – UFMA
Thatielle Pinheiro Abreu – UFMA
Prof.ª Célida Maria Braga (Orientadora) – UFMA



Introdução

O mito de Medeia, Eurípedes – dramaturgo grego – a mulher traída pelo marido, Jasão, e que por vingança mata a nova noiva e os próprios filhos, depois fugindo na carruagem do Deus Sol, é condensada e ricamente desconstruída por Heiner Muller – dramaturgo, escritor e intelectual alemão da segunda metade do século XX – na obra Medeamaterial, onde a critica ao progresso e à civilização atual intercepta o espectador, fazendo-o refletir com o presente. Com base nessas obras, surge a proposta de pesquisa do texto Heiner Mülleriano, fragmentado, deconstruído e intertextualizado e que nos levaram a fazer de Medeamaterial objeto de estudo desafiador, com vistas a, de acordo com a proposta do Departamento do Curso de Licenciatura em Teatro da UFMA, montar um espetáculo de conclusão de curso levando em consideração os elementos mais importantes de um espetáculo teatral. A Cia. “Nós 5 de Teatro”, com duas mostras do espetáculo, de caráter experimental, dentro das pesquisas já realizadas, insere como proposta de encenação a Linguagem Pós-Dramática e/ou Performática e com base no Teatro de Bertold Brecht, da peça Didática e/ou Distanciamento.

Metodologia

A proposta desse trabalho surgiu nas disciplinas de Caracterização e Interpretação II, no 5º e 6º período, respectivamente, ambas ministradas pela profª Célida Braga, onde o ponto chave na primeira era a caracterização da protagonista Medea e na segunda a interpretação da personagem, feita a leitura e discussão da obra de Müller, percebeu-se os vários momentos dessa personagem – a mulher, a mãe, a irmã, a feiticeira e o seu último estágio, a louca – a pesquisa deu-se em torno dessas denominações, relacionando o mito com a contemporaneidade. O processo até aqui, está registrado em fotos, filmagens, portfólios, artigos, cartas, feitos por toda a companhia, (atores, colaboradores, apoios, professores, etc), assim como os equipamentos, gastos. Os ambientes desde as salas, os corredores, os pátios do próprio Centro de Ciências Humanas –UFMA, a Avenida dos Portugueses que dá acesso à universidade e ao local de apresentação – a Fábrica das Artes de São Luís, na área externa, ruínas de uma antiga fábrica, fizeram parte do cortejo que leva o público em ônibus ao local de realização do espetáculo.





Resultados e Discussão

As pesquisas resultaram em dois experimentos: “Medeias não precisam de auxílio” e “Nós filhos Medea”. O primeiro baseou-se na idéia que o grupo estabeleceu sobre a personagem, não como a injustiçada, a vítima, no seu estado de loucura, mas como completamente responsável por seus atos cruéis. No segundo, o enfoque foi nos filhos de Medea, nós, sociedade, e tudo que gira em torno destes, colocados em situação de perigo por suas próprias mães. A encenação não linear dos acontecimentos, a possibilidade de ver em cena as várias facetas das Medeas, a colocação do público dentro do espetáculo, não assistindo, mas dele participando, questionando-se, geraram as discussões pretendidas sobre o que é este Teatro Pós-dramático, que extrapola a quarta parede, o público também faz parte da cena, não há drama, não se conta uma história, se mostram ações, performances. O espetáculo teve boa recepção do público e resultou também em produções escritas.

Conclusões

Dessa forma, as experimentações nos levam a pontuar fraquezas na pesquisa e nos incentiva a ir fundo nela, no intuito de melhor elaborá-la, já que pretendemos levá-la a monografia de conclusão de curso. Além de todo material elaborado, produzido, registrado, nos serve como base, nos mostra o caminho que está seguindo a pesquisa. As diversas reações do público, provam que estamos no caminho certo de pesquisação, pois o trabalho mais especificamente pretende inserir na cena maranhense a proposta do Teatro Pós-dramático.


Palavras-chave: Pesquisa, Experimentação, Pós-dramático.

MedeaMedeas na III Semana do Teatro no Maranhão


Medea-Mãe; Chocando os ovos da Morte


Deveríamos ser seres que colocam ovos, seres que comem seus ovos na hora das maiores certezas de dores que fazem suar e alimenta a última gota de dias melhores, mesmo sabendo que não existem dias melhores, seres que chocam para a guerra, para o horror. Uma guerra travada por um simples motivo: sobreviver; a um mundo irreal dentro do universo real do imaginário cotidiano irregular, travado por terrenos hibrides encharcados por ódio, morte, sangue, intermináveis sensações de crueldade que se tornam normais perante o passar das horas, como num embalo de uma rede, sentindo o vento ou a brisa após uma deliciosa refeição, após um delicioso ovo que outrora quase foi chocado se não fosse a ganância do homem em querer sempre aquilo que seu umbigo pede.
Hoje, o normal é sempre a ação do cotidiano, independente da crueldade que essa ação cause no convívio das pessoas. Por instantes talvez, o estranhamento, apenas por instantes, depois a normalidade. Sendo assim é normal prostitutas sendo espancadas por jovens de classe alta, é normal ver um avião em alguns segundos se tornar um grande amontoado de ferros que choram ao calor do fogo, é normal políticos que matam políticos e políticos que lavam suas roupas com a sujeira pública, é normal ver filhos drogados por remédios que não passam a febre, matando mães inocentes, que passam a vida criando filhos para tornarem uma esfinge devoradora de seios maternos, é normal ver paises na miséria enquanto outros desfrutam incessantemente de uma das sete maravilhas do mundo. Então, não posso deixar de me perguntar, o que não é normal? Quem poderia responder então este questionamento?
Ninguém melhor pra responder que as nossas Medeas, desprezadas pelo patriotismo exacerbado que coloca o homem como o maior símbolo familiar, o mesmo que toma coca-cola e arrota hambúrguer, o mesmo que sai todos os dias paro o serviço pela manhã e volta ás 11h da noite com a fuça cheia de cachaça com cheiro de cabaré e de rapariga, o mesmo que assiste ao futebol e diz que fazer as unhas não serve pra nada, o mesmo que acredita ser normal ter sua Medéia em casa cuidando dos seus filhos enquanto ele se diverte com putas vadias nas ruas, fazendo sexo oral e gastando o dinheiro do material didático das crianças. Ele se chama Jasão.
Iludido Jasão que outrora pensava que sua esposa fosse louca, iludido Jasão que teimava acreditar que sua Medéia precisava de auxilio. Medéias não precisam de auxilio. Jasão, para este sim, todo auxilio do mundo ainda será pouco para que entenda que seus ovos já não são mais seus, que seus ovos nunca foram seus, e que seus ovos não são mais ovos. Nobre é Medéia a mais forte entre as mulheres. A linda Julieta devia ter aprendido que beijos matam.
Considerada por muito como “a louca” por ter matado seus dois lindos filhos, crianças apenas, de olhos bem escuros, pele negra suave como o vento e macia como um veludo, acabados de sair dos ovos da fertilidade. Para muitos o fato de ter matado os filhos por vingança não quer dizer que seja normal. Mas o que não é normal hoje? Só porque mães não andam pelas ruas matando seus rebentos, só porque mães amam seus filhos incondicionalmente e jamais desejam a morte de suas crias, mas é neste ponto que aparece a linda figura de Medéia, aquele que choca os ovos da morte.
Medéia não mata seus filhos, pois já estão mortos, e quem fez tamanha atrocidade foi o próprio pai, fugindo de seu lar, abandonando aquela que enfrentou a sangue o infeliz destino. Ela apenas consolida o que já aconteceu, enterra seus filhos para que Jasão nunca mais possa vê-los e desfrute daquilo que ele nunca chocou. São os ovos da morte, dois, três, quatro e vários.
É certo que neste intrigante acontecimento nada é emocional, é a razão imperando sobre os aspectos emocionais, a razão mostrando seu poder perante a frágil emoção que Jasão oferece a sua “puta de cristal”. Medéia é o símbolo da inteligência feminina, é o símbolo da racionalidade feminina, enterrou seus filhos para se vingar daquele que lhe prometeu amor eterno e a enganou por muito tempo. Então Medéias não precisam de ajuda, precisam apenas de ser entendidas, por aqueles que conseguem entender que laços sanguíneos são emocionais, e laços afetivos são, sobretudo, racionais.

Histórico do Nós

Cia Nós 5 de Teatro
Pensando nos desafios e nas soluções para a cena teatral contemporânea, é que em meados do ano de 2007, um pequeno grupo de estudantes do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Maranhão, após a avaliação do espetáculo “Medeamaterial” de Heiner Muller, apresentado para o enceramento da disciplina caracterização, resolveu montar uma nova companhia de Teatro, com o intuito de mergulhar nas discussões sobre o Teatro pós-dramático e qual o papel do ator e do espectador, diante deste paradigma tão discutido neste começo de século, que tem suas matrizes nas impossibilidades da estrutura teatral moderna, lançando mão da Performance, do Happening e das Instalações Urbanas.
Durante esta pequena trajetória temporal, a Cia. Nós 5 de Teatro, optou por se aprofundar no mito de Medeia, e conta com três experimentos que estão diretamente ligadas um ao outro, e ainda em processo de pesquisa, são eles: O espetáculo “Medeamaterial” de Heiner Muller; A intervenção “Fragmentos de Medeamatearial”, e o espetáculo “Nós[filhos]Medea”, este último de autoria da própria Cia., baseada nos ensinamentos do lendário Heiner Muller